quarta-feira, 10 de novembro de 2010

PINHO VELHO

Apparício da Silva Rillo


Pinho velho, empoeirado,
escutei neste momento
as notas que a mão do vento
te surrupiou ao passar.
Canta, mas canta sozinho,
porque teu dono, meu pinho,
nunca mais há de cantar.

Canta, canta pinho amigo,
deixa que o vento te abrace.
É o minuano? Pois que passe,
quem canta não sente frio!
Canta, consola teu dono,
faz que não sente o abandono
de nosso rancho vazio.

Canta, mas canta baixinho...
Que neste rancho enlutado
mal se escute o teu ponteado,
meu inquieto violão.
Respeita a dor do meu luto,
se de ouvido não te escuto,
te escuto de coração.

Repara só, velho pinho,
como o destino da gente
desembesta de repente,
rebenta o freio e se vai!
Toma sempre o pior trilho,
e a gente sobre o lombilho
vai sofrendo, cai-não-cai...

Procuro agüentar o tranco
mas me achico pra lembrança
sempre que beijo esta trança
sedosa, que conservou,
a graça, o viço e o perfume
daquela que por ciúme
Nosso Senhor me roubou.

Meu pinho, por que calas-te?
Canta de novo, meu pinho!
Teu dono fala sozinho
por não poder mais cantar.
Quem tem mágoas na garganta
chora, pensando que canta,
cantando pra não chorar!


Nenhum comentário:

Postar um comentário