domingo, 12 de dezembro de 2010



JOÃO CAMPEIRO

Apparício Silva Rillo e José Gonzaga Lewis Bicca

1ª Gravação: Os Angüeras, de São Borja-RS


- João Campeiro...
- João Campeiro...

É como um grito de reponte que levasse
um boi na tropa e não o homem que foi João.

- João Campeiro...
- João Campeiro...

E entretanto, no reponte deste grito,
o João Campeiro vai sumindo - já se foi...
Ele que outrora repontava o boi na estrada,
vai ao reponte, estrada a fora, igual ao boi...

Ninguém tem culpa, João, ninguém...
Ninguém tem culpa, João, ninguém.
Teria que ser assim,
tudo que nasce, um dia tem fim...

Semente boa que deu flor e que deu fruto,
planta do campo que deu sombra, e que há de dar
o derradeiro galho seco para o fogo
onde um João novo que nasceu
vai se aquentar...

Ninguém tem culpa, João,
ninguém...
Ninguém tem culpa, João, ninguém.
Teria que ser assim,
tudo que nasce, um dia tem fim...

- João Campeiro...
Tudo o que nasce um dia tem fim...

Rio de Infância

Apparício Silva Rillo


Minha mãe foi lavadeira
e o meu pai foi pescador
nosso pão de cada dia
era o rio caminhador.

Eu cresci ao lado deles
nas barrancas do Uruguai
vendo as águas caminhando,
ano vem e ano vai.

Um dia fugi com elas
cansado de ser guri
numa balsa rio afora
fui embora e me perdi.

Velho rio de minha infância
temos destinos iguais
tuas águas e meus sonhos
passando não voltam mais.

Como é fácil ir embora
como é difícil voltar
quero ser guri de novo
não consigo me encontrar.


terça-feira, 7 de dezembro de 2010

EIS A VERDADE


Quando eu nasci
não sabia falar nem andar,
só chorar.
Não sabia somar nem subtrair,
também não era capaz
de multiplicar ou dividir.

Das quatro operações, hoje,
não somo nem multiplico.

Só posso dividir ou subtrair.

Tudo que tenho e sou
divido com meus afetos e,
cada dia que passa,
abato na tarca do meu tempo
vinte e quatro horas da vida.
Com absoluta precisão, eu afirmo:
neste dia, tenho em conta
16.032.008 - 16.031.938 = 00.000.070

Setenta anos mal ou bem vividos
que passaram depressa.

E agora...só resta dizer:

Obrigado, meu DEUS!

Porto Alegre, 16/03/2008

Ivo Leão da Rocha





O BEIJO
Ivaldo Larentis

Os teus lábios que me seduzem tanto,
Expressaram esta pergunta, um dia:
Que é um beijo? Pra uns não tem valia,
E é pra outros, divinal quebranto!?

Calei-me então, e te não respondia,
Procurando palavras, entretanto,
Que exprimissem, com precisão, o encanto
O amor, que o beijo n'alma produzia.

E nesta ânsia desvairada e louca
Em vão procuro definir-te o beijo:
Este contato de uma a outra boca.

Esse conluio de almas que estremecem
Saberia, Lorena, o que é um beijo
Se meus lábios, nos teus, um beijo dessem.

Obs.: Soneto escrito em 1945