segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Em nossa vida cotidiana, há sempre um rosto de mulher...

O  SAL  DOS  OLHOS
Gujo Teixeira

Andei passeando no teu sorriso
e me esqueci de voltar
perdi o rumo da estrada
por me guiar nesse olhar.
Quem sabe um dia eu veja
o que o olhar não entende
e descubra do meu jeito
porque teu riso me prende.

Meus olhos claras vertentes
das coisas que a alma reflete
basta um silêncio de noites
que a saudade se repete.
E faz brotar lentamente
tristezas que a gente tem
mesmo guardadas por dentro
se mostram quando convém.

Às vezes o sal dos olhos
(se a saudade não é pouca)
nos mostra um gosto amargo
salgando o doce da boca.
Às vezes o sal dos olhos
é uma lágrima sentida
que nos desce pela face
por uma fresta da vida.

Não sei porque esse jeito
essa lágrima no rosto
se por um sorriso apenas
a boca adoça seu gosto.
E tudo muda a seu tempo
desfaz-se o que era triste
silêncio, depois palavras
e uma alegria que insiste.

Mesmo sem saber os rumos
que os olhos hão de me dar
quero teu sorriso de perto
pra aprender a voltar.
E depois saber da vida
por que os meus olhos têm
essa lágrima sentida
pela saudade de alguém!

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Que Poesia e que Sentimento!

VERSOS  DO  AMOR  SEM  FIM

SABANI FELIPE DE SOUZA

Plantei fundas esperanças no meu canto
Pois cantar é terra fértil pra quem ama
E as tristezas são sementes não crescidas
Na tua partida, que em meu peito se derrama

Estes meus versos andam tristes nos confins
Pois a saudade, trás silêncio de taperas
Cevo o meu mate, nestas tardes de horas largas
Que são amargas, quanto as noites de esperas

Escuta minha prenda esta canção que fiz só pra ti
No universo, nosso amor anda disperso
Buscando rimas pra estes versos que escrevi
Teus olhos meigos do infinito pra onde foste
Rasgam o céu na escuridão dizendo a mim
Que tu me esperas, pras eternas primaveras
do novo mundo cheio de paz, e amor sem fim

Em que outro mundo, aquerenciou-se afinal
Se meu olhar encilha o flete, e sai pra vê-la
Será nas águas mais profundas de algum mar
Quem sabe o céu, ganhou mais uma estrela

Ainda ergo, aquele rancho que sonhamos
Nas voltas fundas, no fundo de algum rincão
Pra que a saudade tenha abrigo quando chegue
A onde o sonho se casou com a solidão
Pra que a saudade tenha abrigo quando chegue
A onde o sonho se casou com a solidão

Observação: Esse lindo Poema está gravado por
Délcio Tavares

Que saudade da minha terra!

A R R A N C H A D O

Armando Vasques / Valdir Santana

Nesta colméia povoeira,
Onde fiz arranchamento
Amarro fletes de sonhos
Nos palanques de cimento
Vou bebendo nostalgias
De sanga, pitanga e vento
Sesmarias de saudade
Não cabem no apartamento

Quando a lua se debruça
No arranha-céu dos viveiros
Onde arranchei minha alma,
No meu exílio povoeiro
Coiceia dentro do peito
Um coração caborteiro
Me sinto um pássaro preso
Na angústia do cativeiro

Um luzeiro imaginário
Na quincha de um céu nublado
Vai apartando rebanhos
De fumaça nos telhados
E uma saudade de noivo,
De campo e berro de gado
E uma saudade de noivo,
De campo e berro de gado

Vou embora pra querência
Pra me arranchar no meu chão
Amanhã eu ponho anúncio
Nos grandes classificados
Vende-se um apartamento
No coração da cidade
A preço de ocasião
Por motivo de saudade




sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

No sítio do Telmo em Cachoeirinha




C H I M A R R E A N D O

Telmo de Lima Freitas

Comungando junto ao fogo,
Fazendo conta nos dedos,
Tento fazer desenredos
Na maçaroca da vida,
Cheia de pontas e voltas
Que o próprio tempo enredou.
Sigo, então, chimarroneando,
Campereando mui alerta,
Procurando a volta certa
Da ponta que se extraviou.

Prendo um cigarro de palha
Num tição de guajuvira,
O peito velho respira
Com fome de madrugada.
A memória basteriada
Se põe passarinheira,
Lembrando até de sonseira
Pra bulir com o coração.

E ao longo da madrugada
Vou virando a cevadura,
Sentindo a doce amargura
Do verde que preparei.
Converso comigo mesmo,
Lembrando velhas cruzadas,
Cruzando as mesmas estradas
Que por muito transitei.
E na soma das lembranças,
Nem sempre do meu agrado,
Vou pelegueando o passado
Das tropas que faturei.

O chimarrão faz costado
Nas minhas evocações,
Lembrando velhos fogões
Que o tempo fez apagar.
Reacendo por muitas vezes
Um palheiro já dormido.
Redemoniando os sentidos,
Num eterno desafio,
De tanto rondar lembranças,
Nem o mate aquece o peito,
Por isso trago esse jeito
De salso em beira de rio.




quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

ODE A JAYME CAETANO BRAUN


Jayme

(*30.01.1924  +08.07.1999)

Em 30 de janeiro, o Rio Grande do Sul comemora o Dia do

Pajador Gaúcho.

Justa homenagem ao maior de todos.

(Lei 11.676, de 16.10.2001)


Quero compartilhar com muitos
a saudade de um amigo
que levarei sempre comigo
neste trinta de janeiro.
Aquele poeta campeiro,
gaúcho da timbaúva,
resistente como cabriúva,
cerne por demais pesado
que faz lembrar o passado
num rancho em tarde de chuva.

Foi num verão missioneiro,
de um tempo que longe vai,
bem perto do rio Uruguai,
que o Jayme nasceu um dia
para cantar, com melodia,
a pajada que é improviso
com verso muito conciso
as coisas do nosso pago
entre um mate e um trago
numa Estância do Paraíso.

Já na primeira mamada,
bebeu apojo de brasina
para amoldar sua sina
de gaúcho altaneiro
bem montado e bem faceiro
no zaino que era um capincho,
para sair de um bochincho
de gente não mui direita,
sem ao menos sentir suspeita
mais apertado que queijo em chincho.

Não tem fim a sua história,
seus poemas, suas cantigas,
idílios com raparigas
que cantou porque viveu
com o dom que Deus lhe deu
para que hoje seja lembrado,
unindo presente e passado
com resmungos de cordeona,
um charque sobre a carona
e um churrasco bem assado.

Num bolicho de campanha
ou comércio de carreira,
trazia por companheira
uma china bem lindaça
para mesclar sua raça
forjada ao rigor do campo
com luz de pirilampo,
para alumiar a caminhada,
ao fim de cada jornada,
sem temer raio ou relampo.

Bochincho, Potreiro de Guaxos,
Galo de Rinha, Galpão de Estância
são versos e livros com ressonância,
acolherados com precisão,
na ânsia de difusão,
nas três Pátrias dos Charruas
para cruzar estradas, campos e ruas,
honrando lenços, vermelho ou branco,
sem nunca afrouxar o tranco
em noites claras de luas.

"Meu canto evoca o bochincho
quando o candieiro se apaga,"
já sentiu o fio da adaga,
já cruzou o Uruguai a nado
são coisas do teu passado,
velho patrício andarilho,
para ficar como estribilho,
como relíquia do pago
para quem faz um afago
a ti que viveu com brilho.

E os amores? Ah foram tantos
que o tempo jamais oculta!
De cada um deles, resulta
lembranças eternizadas,
cantadas em mil pajadas
que a gente só de carancho
se deliciava mui ancho,
quase morrendo de ciúme,
que ainda reste o perfume
na baeta do teu ponho.

Descansa em paz, velho amigo,
dorme teu sono reiúno,
sonha com o baio-sebruno
que encilhavas com capricho,
lembra de algum cambicho
e mostra para teu povo
que com requinte e retovo
sem se importar com a altura,
retorna "a velha planura
pra ser gaúcho de novo."

Porto Alegre-RS, 30.jan.2011

Ivo Leão da Rocha

Nota do autor:
Pajador ou (Payador em Espanhol)
significa Repentista

SAUDADE DA MAITÊ



 
Hoje eu mato a saudade
do meu pezinho de flor
e, com todo meu vigor,
vou lhe fazer muito carinho.
Com a paz que Deus me oferece,
não cansarei de lembrar em prece
o seu olhar angelical,
que faz bem a todo mortal,
quando o puro amor acontece.

Capão da Canoa-RS
21.jan.2011

Ivo Leão da Rocha