domingo, 19 de setembro de 2010

MILONGA DO SOLITÁRIO

Balança a rede campeira,                                 
balança a rede sozinha.                                                 
Quem se acostava na rede
noutra esfera caminha.

O olhar olhando pra dentro
como de si prisioneiro.
Veste seus panos gaúchos
- seu timbre de homem campeiro.

Sobre a coxilha bem alta
se planta o império de quem
pelos repechos da História
subiu tão alto, também.

Só a estância o compreende,
plantada no coxilhão,
pois ambos têm raízes
fincadas no chão.

ITU é o nome da estância,
chamam GETÚLIO, a seu dono,
que assim na rede parece
algum chiru no abandono.

Sempre rodeado de gente
vinda de longes rincões,
tropeia sonhos perdidos
no amargo das solidões.

Sempre o maior solitário
- já dizem os velhos rifões -
é aquele que está solito
no meio da multidão.

Lhe chamam de SOLITÁRIO
e ele de fato está só
- folha de angico do campo
que o vento atirou no pó.

Seus ideais de estadista
- os feitos e os por fazer-
são uma tropa fantasma
cruzando no anoitecer.

Ladram cachorros na noite
e o velho, de olhos no chão,
lembra os cachorros humanos
do engano e da traição...

Apparício Silva Rillo


 

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