segunda-feira, 27 de junho de 2011

Bolaços do Bola

Causo de Apparício Silva Rillo, onde é citado o nome do amigo Diogo Madruga Duarte,
doutor num jogo de truco e, que há muitos anos não vejo.


" Os que me contaram seus causos não lhe sabiam seu primeiro nome. No seu túmulo, em Bagé, duas datas e a inscrição: "Bola Madureira". Pinheiro Machado e Lavras do Sul disputam, com a terra onde viveu e foi enterrado, a primazia de seu nascimento. Tudo porque Bola Madureira terá sido um dos gaúchos mais completos que o Rio Grande já teve.
Há todo um folclore a respeito de suas proezas como campeiro: a de emérito laçador, a ponto de não lhe escapar da armada nem mesmo uma lebre correndo coxilha acima; a de grande atirador de boleadeiras, havendo, certa vez, boleado um joão-grande que lhe cruzava a frente do cavalo; quando mais moço, gineteava ao revés, seguro apenas na cola da montada.
Mas tendem tanto ao fantástico as histórias de extração campeira que o levam como personagem que, precavido, prefiro les contar dois causos que me parecem revelar o senso de humor que foi uma das tantas características de Bola Madureira, cuja estampa física, segundo
Diogo Madruga Duarte, seria "a de um Búfalo Bill sem bigodes".
De volta de uma tropeada o Bola ficou de pousada numa casa de estância, onde chegou de tardezita. Depois do mate habitual, foi convidado a jantar. Foi servida uma canjica aguada, com os grãos de milho duros e mal cozidos. Bola foi sorvendo devagar o prato mal preparado. De repente a ordem do dono da casa, falando em direção à cozinha:
- Muié, pode trazer o frango!
Bola Madureira, roído de fome, sentiu um alívio. Finalmente alguma coisa que prestava. Sorveu o caldo sem gosto e deixou a canjica praticamente intacta. Demorou pouco seu entusiasmo. Entrou a dona da casa na sala com um frango embaixo do braço. Largou-o em cima da mesa e comandou, com voz macia:
- Come, franguinho querido, come. Canjiquinha cozida vai te deixar bem gordinho...

* * *

Doutra feita, também de pousada em rancho alheio, Bola Madureira mateou até dez horas da noite com o dono da casa. De bóia, nada. Lá pelas tantas seu hospedeiro, insinuando que já era hora de espichar os ossos nos pelegos, convidou:
- Quem sabe a gente lava os pé na gamela? Temo que levantá cedo amanhã...
Bola, louco de fome, saiu-se com esta:
- Mas será que não faz mal lavar os pé em completo jejum? "


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