quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

ODE A JAYME CAETANO BRAUN


Jayme

(*30.01.1924  +08.07.1999)

Em 30 de janeiro, o Rio Grande do Sul comemora o Dia do

Pajador Gaúcho.

Justa homenagem ao maior de todos.

(Lei 11.676, de 16.10.2001)


Quero compartilhar com muitos
a saudade de um amigo
que levarei sempre comigo
neste trinta de janeiro.
Aquele poeta campeiro,
gaúcho da timbaúva,
resistente como cabriúva,
cerne por demais pesado
que faz lembrar o passado
num rancho em tarde de chuva.

Foi num verão missioneiro,
de um tempo que longe vai,
bem perto do rio Uruguai,
que o Jayme nasceu um dia
para cantar, com melodia,
a pajada que é improviso
com verso muito conciso
as coisas do nosso pago
entre um mate e um trago
numa Estância do Paraíso.

Já na primeira mamada,
bebeu apojo de brasina
para amoldar sua sina
de gaúcho altaneiro
bem montado e bem faceiro
no zaino que era um capincho,
para sair de um bochincho
de gente não mui direita,
sem ao menos sentir suspeita
mais apertado que queijo em chincho.

Não tem fim a sua história,
seus poemas, suas cantigas,
idílios com raparigas
que cantou porque viveu
com o dom que Deus lhe deu
para que hoje seja lembrado,
unindo presente e passado
com resmungos de cordeona,
um charque sobre a carona
e um churrasco bem assado.

Num bolicho de campanha
ou comércio de carreira,
trazia por companheira
uma china bem lindaça
para mesclar sua raça
forjada ao rigor do campo
com luz de pirilampo,
para alumiar a caminhada,
ao fim de cada jornada,
sem temer raio ou relampo.

Bochincho, Potreiro de Guaxos,
Galo de Rinha, Galpão de Estância
são versos e livros com ressonância,
acolherados com precisão,
na ânsia de difusão,
nas três Pátrias dos Charruas
para cruzar estradas, campos e ruas,
honrando lenços, vermelho ou branco,
sem nunca afrouxar o tranco
em noites claras de luas.

"Meu canto evoca o bochincho
quando o candieiro se apaga,"
já sentiu o fio da adaga,
já cruzou o Uruguai a nado
são coisas do teu passado,
velho patrício andarilho,
para ficar como estribilho,
como relíquia do pago
para quem faz um afago
a ti que viveu com brilho.

E os amores? Ah foram tantos
que o tempo jamais oculta!
De cada um deles, resulta
lembranças eternizadas,
cantadas em mil pajadas
que a gente só de carancho
se deliciava mui ancho,
quase morrendo de ciúme,
que ainda reste o perfume
na baeta do teu ponho.

Descansa em paz, velho amigo,
dorme teu sono reiúno,
sonha com o baio-sebruno
que encilhavas com capricho,
lembra de algum cambicho
e mostra para teu povo
que com requinte e retovo
sem se importar com a altura,
retorna "a velha planura
pra ser gaúcho de novo."

Porto Alegre-RS, 30.jan.2011

Ivo Leão da Rocha

Nota do autor:
Pajador ou (Payador em Espanhol)
significa Repentista

Nenhum comentário:

Postar um comentário