C H I M A R R E A N D O
Telmo de Lima Freitas
Comungando junto ao fogo,
Fazendo conta nos dedos,
Tento fazer desenredos
Na maçaroca da vida,
Cheia de pontas e voltas
Que o próprio tempo enredou.
Sigo, então, chimarroneando,
Campereando mui alerta,
Procurando a volta certa
Da ponta que se extraviou.
Prendo um cigarro de palha
Num tição de guajuvira,
O peito velho respira
Com fome de madrugada.
A memória basteriada
Se põe passarinheira,
Lembrando até de sonseira
Pra bulir com o coração.
E ao longo da madrugada
Vou virando a cevadura,
Sentindo a doce amargura
Do verde que preparei.
Converso comigo mesmo,
Lembrando velhas cruzadas,
Cruzando as mesmas estradas
Que por muito transitei.
E na soma das lembranças,
Nem sempre do meu agrado,
Vou pelegueando o passado
Das tropas que faturei.
O chimarrão faz costado
Nas minhas evocações,
Lembrando velhos fogões
Que o tempo fez apagar.
Reacendo por muitas vezes
Um palheiro já dormido.
Redemoniando os sentidos,
Num eterno desafio,
De tanto rondar lembranças,
Nem o mate aquece o peito,
Por isso trago esse jeito
De salso em beira de rio.
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