Vou lhes contar uma história
inventada, é bem verdade,
surgida na capacidade
de um grande amigo meu.
Que num velório aconteceu
um causo muito esquisito,
ficando o dito pelo não dito,
o defunto ali deitado,
inerte e desfigurado
pra última viagem solito.
É que neste mundo terreno
com tanta evolução,
não querendo abrir a mão
do modernismo vigente,
queria ser diferente
quando fosse desencarnar.
Desejava consigo levar
com bateria bem carregada
na sua última cruzada
seu velho e bom celular.
Logo após o passamento,
a mulher do finado,
não esquecendo o combinado
que tratara com o de cujo
da promessa não fujo
lhes juro pelo deus baco,
em vez de meter num saco
ou mala de garupa
o celular, botou num upa
no bolso do seu casaco.
E assim, atendendo o desejo
daquele ente querido,
pensava ter resolvido
sua última missão
sem pensar na situação
que poderia causar
o reboliço sem par,
no meio de tanta gente,
aquele som estridente
do celular a tocar.
Os presentes entreolharam-se
com espanto reprimido.
O que teria acontecido
no meio de quatro velas,
flores brancas e amarelas
ninguém ousava falar
nem tampouco cochichar
a imprevista ocorrência
que nem mesmo a ciência
era capaz de explicar.
E como ninguém atendeu
à chamada inusitada,
a peça foi enterrada
com nosso amigo gaudério
num canto do cemitério
como se fosse de lata
transformar-se em sucata
para ficar em silêncio
no paletó do Juvêncio
a partir daquela data.
Ivo Leão da Rocha
Porto Alegre, 09/07/2009
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