Monumento a Jayme Caetano Braun
em
São Luiz Gonzaga-RS
Brasil
JOÃO BARREIRO
Jayme Caetano Braun
João Barreiro... João Barreiro...
Velho pássaro bizarro
que dum ranchito de barro,
amassado com carinho,
fizeste galpão e ninho
na maior indiferença,
e nem pediste licença
pra mim, que sou teu vizinho!
Pois na cabeça dum poste,
na entrada do parapeito,
te arranchaste bem a jeito,
erguendo o teu rancho forte
meio de esguelha pra o norte
porque és muito previdente...
Eu até fiquei contente;
Dizem que dás muita sorte!
Ranchito lindo esse teu
que horas inteiras contemplo,
tem bem o feitio de um templo
assim, rústico e bagual,
que o construtor mais genial,
por mais arte e mais paciência,
leva toda uma existência
mas não fará outro igual!
Por isso fico pensando
no poder do Criador
que dum pássaro cantor
assim como tu - Barreiro! -
Fez o maior engenheiro
que o Céu abriga, - xomico! -
Sem mais recursos que o bico
e o velho barro campeiro!
Quando piá, fui meio diabo,
muito bichinho matei,
mas sempre te respeitei
sem saber qual a razão;
Talvez por veneração
de piazote malcriado
ao te ver sempre entonado
nesse rancho de torrão!
Rancho bendito esse teu,
sempre um símbolo de paz,
portas abertas pra trás
como a dizer ao viajante:
-"Te apeia e chega pra diante,
pois embora um passarinho
sei como é triste o caminho
do guasca que vive errante!"-
E quando a barra do dia
no horizonte se desmancha,
ao te ouvir pedindo cancha
num grito de toda goela
sinto como é rude e bela
a nossa velha Querência
e como é penosa a ausência
pra se viver longe dela!
Eu sinto inveja e não nego
desse teu ninho barreado
que ergueste desassombrado
sobre o moirão da porteira.
Pois junto da companheira
que te ajoujou na ternura
és a própria miniatura
da fidalguia campeira!
Toda a mística da Raça
nesse barro sintetizas
e o Rio Grande simbolizas
bombeando as várzeas desertas,
pois parece que acobertas
nesse ranchito sem luxo
o coração do gaúcho,
sempre de portas abertas!
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